Novembro é o mês para celebrar a cultura e a luta das pessoas negras, já que marcamos 20 de novembro como o Dia da Consciência Negra. Porém, não podemos nos limitar a questionar as desigualdades entre brancos e negros somente em um dia ou mês no ano todo. A luta antirracista é diária. Principalmente em espaços predominantemente brancos, temos que estar atentos para comportamentos que reforçam uma estrutura que se ergue em detrimento da população negra. Assim, trouxemos algumas expressões comuns cujo uso deve ser repensado em razão de terem conotação ou origem racista.
“Cor de pele”
Uma muito usada por quem tem bastante contato com crianças é a do “lápis da cor de pele”. Ela é usada para se referir àquela cor clara e rosada, próximo ao bege, por lembrar o tom de pele branco. Com isso, estamos deixando implícito para a criança que todos os demais tons de pele fogem à norma e o branco é a “referência”.
E por falar em cor, por que costumamos usar o termo “inveja branca”, associando a cor branca a algo puro e inocente? Podemos usar, por exemplo, “inveja boa” sem nenhuma perda de significado ou entendimento. A “inveja branca” conversa com a ideia de que o que não é branco é mais negativo e, nesse sentido, tem tudo a ver com a expressão “denegrir”, outra que devíamos substituir para ontem. Em vez dela podemos usar, por exemplo, “manchar a reputação” ou “depreciar”.
Aparência
É muito comum também encontrarmos racismo em algumas expressões que se relacionam à aparência. Quem nunca ouviu alguém voltando da praia dizer que ficou “da cor do pecado”, associando o tom de pele mais escuro a um imaginário sexualizado? Da mesma forma, é comum que pessoas brancas, tentando “elogiar” pessoas negras, digam que estas têm “traços finos” ou uma “beleza exótica”, que coloca o padrão de beleza próximo do europeu como superior (porque traços diferentes disso seriam “grossos” ou “grosseiros”) e como a norma, já que o que desvia dele é considerado diferente, ou “exótico”.
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É também por causa desse padrão que o cabelo crespo é frequentemente chamado de “cabelo ruim”. Mas o cabelo crespo, diferente do racismo, não tem nada de ruim e só é visto dessa forma pela construção de padrões de beleza em torno de um ideal eurocêntrico e racista.
E aí, quais dessas expressões você ainda precisa cortar do vocabulário? Aproveite o mês da Consciência Negra para refletir.
Texto escrito pela nossa advogada Beatriz Massetto Trevisan.