A inserção do hidrogênio verde na matriz energética nacional

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Por Camila Lemos e Luis Menezes

Há muito se discute fontes de energia renovável e descarbonização, e o hidrogênio verde é mais uma dessas possibilidades que vem sendo desenvolvida globalmente.

Vale lembrar que para capturar a molécula H2 do hidrogênio é preciso obter pela extração de alguma coisa. Assim, existem diferentes formas de produção do hidrogênio, podendo advir do gás natural, da biomassa, do carvão mineral, dentre outros.

No caso do hidrogênio verde, ele é obtido através da separação do hidrogênio presente na água por meio da eletrólise, processo esse 100% sustentável, mas que ainda encontra dificuldades por seu alto custo comparado a outras fontes de energia ou os outros meios de separação do hidrogênio citados acima.

Porém, estudos feitos pela consultoria Rystad Energy apontam que por volta de 2026 será possível existir uma paridade nos custos de extração do hidrogênio verde e dos demais tipos. Outro estudo, publicado em agosto de 2020 pela consultoria de energia Wood Mackenzie, estima que os custos para desenvolvimento do hidrogênio verde cairão até 64% na próxima década.

Como dito acima, para o hidrogênio verde, a água é a sua fonte primária. Assim que, para fazer a eletrólise, que separa o oxigênio do H2, é preciso destinar uma quantidade de água para produzir o hidrogênio. Essa água pode ser obtida também da água resultante do processo de energia eólica e solar, por exemplo.

Internacionalmente, nos países onde já existe uma preocupação maior com a questão da queima de carbono, o hidrogênio verde vem se mostrando uma alternativa muito interessante.

A Europa já vem trabalhando na transição energética e criou um documento intitulado “Hydrogen Roadmap Europe: A sustainable pathway for the European Energy Transition” para atrair investidores e reduzir as emissões de carbono até 2050. No final de dezembro de 2021, a Comissão Europeia liberou a destinação de 900 milhões de euros para financiar projetos de hidrogênio verde em outros países.

Já existem diversos projetos em andamento pelo mundo, os principais se encontram na Austrália, Holanda, Alemanha, China e o Chile. Curiosamente, a América do Sul foi o primeiro no continente a apresentar uma “Estratégia Nacional de Hidrogênio Verde”, em novembro de 2020.

No âmbito nacional, existe uma percepção governamental de que, na questão de fontes energéticas, nem sempre o adotado internacionalmente é o mais recomendado para o nosso país, que felizmente possui fontes primárias bem diversificadas de combustíveis. O maior exemplo disso talvez seja o uso do etanol.

Quando o combustível é produzido a partir de gás natural, a competência atraída é a da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), que é a agência que regula a produção de combustíveis derivados do petróleo. Só que o mesmo não acontece com o hidrogênio verde, porque ele advém da água.

Existe ainda, portanto, uma indefinição a respeito do órgão responsável pela sua regulamentação e fiscalização. Dentre os agentes já existentes, a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), a ANA (Agência Nacional de Águas), ou a própria ANP podem vir a receber tal atribuição.

Atualmente o Ministério de Minas e Energia (MME) está à frente do projeto e apresentou em agosto do ano passado documento com as diretrizes para o Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2), em atendimento à Resolução nº 6/2021 do CNPE.

Por indicação também do MME, a EPE (Empresa de Estudos Energéticos), em 2021, publicou documento intitulado “Bases para a Consolidação da Estratégia Brasileira do Hidrogênio”, que aborda o panorama do mercado, rotas tecnológicas, custos, desafios, o papel do hidrogênio na transição energética e que tenta consolidar aspectos conceituais e fundamentais para a subsidiar a construção da estratégia brasileira de hidrogênio.

Apesar de ainda faltar estabelecer a estrutura de governança do programa PNH2, com a instituição de um comitê técnico representativo das partes interessadas para gerenciar o programa, o mercado internacional vem olhando e criando parcerias para começar a explorar a produção de hidrogênio verde no Brasil, sendo um deles o hub de hidrogênio verde no Porto de Pecém.

A Alemanha também está em parceria com o Brasil para a criação de projeto piloto na Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), em Minas Gerais. Tal projeto faz parte do plano de investimentos do governo alemão, que destinará 34 milhões de euros, em 2022 e 2023, para o desenvolvimento de projetos de hidrogênio verde no Brasil.

Recentemente, a Prumo Logística anunciou o interesse em investir em hidrogênio verde através de uma planta dedicada no Porto do Açu, no Norte do Estado do Rio de Janeiro. A proposta preliminar em estudo vislumbra uma planta inicial com capacidade de produção de 200 mil a 300 mil toneladas/por ano de hidrogênio verde. Ou seja, o hidrogênio verde já se mostra como mais uma alternativa de diversificação da matriz energética nacional e, por força de sua relevância socioambiental, tem tudo para ter um grande destaque nos próximos anos.