No começo de 2022 teve início a 22ª edição do Big Brother Brasil, reality show transmitido pela emissora Globo. Entre os 20 participantes que entraram na casa, Lina Pereira dos Santos, conhecida como Linn da Quebrada, está no grupo camarote e é cantora, atriz e a primeira travesti, como ela se declara, a participar do programa.
Acontece que, com poucos dias de programa, a participante Linn já teve a sua identidade de gênero violada. A primeira situação ocorreu no dia 20/01/2022, quando Eslovênia, outra participante, utilizou o pronome “ele” para se referir a Linn. Dois dias depois deste episódio, ao conversar com Linn, Eslovênia a chamou de “amigo”. Neste momento, Linn respondeu Eslovênia e a orientou: “Amiga, não dá pra ficar mais errando, hein? Já deu o tempo de errar”.
Não bastasse, no dia 22/01/2022 Linn recebeu um torpedo anônimo com a seguinte mensagem: “Vc está solteiro? Tem alguém perguntando aqui KKKK”.
Diante das situações enfrentadas por Linn dentro do reality, o apresentador Tadeu Schmidt, no programa do dia 23/01/2022, solicitou que Linn explicasse o porquê de ter tatuado o pronome “ela” acima de sua sobrancelha e pediu que Linn reforçasse como as pessoas deveriam se dirigir a ela.
Em resposta ao apresentador, Linn afirmou: “Eu fiz essa tatuagem… Eu fiz essa tatuagem, na verdade, por causa da minha mãe, porque no começo da minha transição ou em parte da minha transição a minha mãe ainda errava e me tratava no pronome masculino. Daí eu falei: mãe, olha, eu vou tatuar ela aqui na minha testa que é pra ver se a senhora não erra. E acho que assim também é uma indicação para todas as outras pessoas. Então: ficou na dúvida? Lê e daí vocês lembram que eu quero ser tratada nos pronomes femininos”. Logo após, Tadeu destacou a importância de Linn ensinar isso aos moradores da casa e para o Brasil inteiro, para que erros não sejam mais cometidos.
No dia 24/02/2022, em conversa com Linn, a participante do reality Laís afirmou ter sido a autora do torpedo e explicou que fez uma citação a uma frase dita por Linn, não tendo utilizado o pronome masculino para se referir a ela.
Vale lembrar que no dia de sua chegada ao programa, 20/01/2022, ao se apresentar, Linn deixou claro: “não sou homem, não sou mulher, sou travesti”.
Mas o que faz com que uma travesti como a Linn tenha a sua identidade de gênero desrespeitada e violada tantas vezes em tão pouco tempo? Se a resposta for falta de conhecimento, aqui vai:
Travestilidade “é uma identidade de gênero que difere da que foi designada à pessoa no nascimento, assumindo, portanto, um papel de gênero diferente daquele da origem do seu nascimento, que objetiva transicionar para uma expressão diferente. Na maioria de suas expressões, a travestilidade se manifesta em pessoas designadas do gênero masculino no nascimento, mas que objetivam a construção do feminino, através de suas roupas e podendo incluir ou não procedimentos estéticos e cirúrgicos.”.
E por qual razão não se deve chamar uma travesti pelo nome masculino? Rebecca Gaia, ativista que se identifica como travesti, explica que “quando você chama uma pessoa trans pelo pronome com o qual ela não se identifica, está invalidando a identidade do outro, uma vez que você está usando o seu próprio termômetro do que é ser ele, do que é ser ela; isso é cutucar uma grande ferida”.
Ainda, completa a ativista que “uma pessoa trans, quando é chamada pelo pronome errado, é violentada. O outro não me enxerga como eu me mostrei para ele. Eu posso me apresentar como Maria, mas ela me enxerga como João. Isso dói muito, porque ele está me desrespeitando”.
Destaca-se que nesses casos, além de desrespeitar a identidade de gênero de uma pessoa, é possível que se esteja cometendo transfobia, que se trata de “qualquer ação ou comportamento que se baseia no medo, intolerância, rejeição, aversão, ódio ou discriminação às pessoas trans por conta de sua identidade de gênero”. Além disso, é importante lembrar que a palavra traveco é uma forma pejorativa que não deve ser utilizada para se referir a travestis.
Quer entender mais sobre o assunto? Visite o instragam “@antra.oficial”, que se trata de uma ONG, Associação Nacional de Travestis e transexuais, rede de organização política de pessoas trans.
Texto escrito por Manuella Navarro Lippel.
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Travesti
https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2022/01/21/bbb-22-por-que-usar-o-pronome-masculino-para-se-referir-a-linn-e-errado.htm
https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/o-que-e-transfobia/