O Dia de Finados em diferentes culturas

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Nas religiões de origem cristã, o Dia de Finados é dedicado à memória de pessoas que viveram entre nós e já faleceram. Nesta cultura, a ideia do luto é bem marcante e o dia é revestido de orações.

Os cristãos costumam ir ao cemitério e se colocam junto à sepultura de seus entes queridos para meditar, orar, lembrar de momentos importantes, agradecer pelo amor recebido e expressar a culpa por eventuais erros cometidos. Os cultos são consoladores e fortalecem as pessoas enlutadas, promovendo a certeza de que os mortos estão nas mãos de Deus na espera da ressurreição.

Religiões africanas

Nas religiões de origem africana se aproveita o Dia de Finados para reverenciar a ancestralidade e todos os entes queridos que partiram para o Reino da Glória, chamado de Órun Rere.

Ilustração do Orixá Omulú ou Obaluaê

Em 02 de novembro, para esta comunidade, e em razão do sincretismo religioso fruto da miscigenação cultural, é lembrado o dia de São Lázaro, que representa o Orixá Omulú.

Considera-se que a energia deste Orixá está presente sempre nos fins: no fim da vida, no fim de um ciclo. Então se faz um culto ao Orixá lembrando também os ancestrais e espíritos que já passaram pela nossa terra. Este ritual está relacionado aos guias espirituais, considerando que todos os guias já passaram pela terra quando encarnados e evoluíram.

Como os cristãos, os candomblecistas, umbandistas e quimbandeiros visitam os familiares e amigos nos cemitérios – que eles chamam de campos santos –, colocam flores, velas e rezam. Ao contrário dos cristãos, por exemplo, os adeptos da religião africana utilizam o branco em vez de preto como sinal de luto.

Espiritismo

Na religião espírita de origem kardecista, que tem aspectos religiosos, científicos e filosóficos, se entende que a morte é apenas um rito de passagem e a vida não termina no momento em que o coração para de bater.

Por causa desse entendimento de continuidade, os espíritas não têm o hábito de visitar os mortos nos cemitérios, sendo que nessa época para eles o importante é que sejam feitas orações em nomes dos que morreram. A doutrina entende que os corpos são apenas casulos de uma força não material que é o espírito, que reencarna em outros receptáculos quando chegada a hora.

Indígenas

Para os povos indígenas, a homenagem aos finados se dá mediante a realização do ritual Kuarup. O rito é centrado na figura de Mawutzinin, o demiurgo e primeiro homem do mundo da sua mitologia. Kuarup também é o nome de uma madeira. Em sua origem, o Kuarup teria sido um rito que objetivava trazer os mortos de novo à vida.

Luta Huka Huka entre guerreiros, parte do ritual Kuarup. Foto: Hilda Azevedo / Funai

Os troncos feitos da madeira “kuarup” são a representação concreta do espírito dos mortos. O Rito corresponde à cerimônia de finados, dos brancos, apesar de ser realizado anualmente no mês de maio, e sempre em uma noite de lua cheia.

Entretanto, o Kuarup é uma festa alegre, onde cada um coloca a sua melhor vestimenta na pele. Na visão dos índios, os mortos não querem ver os vivos agindo de forma triste ou feia.

Os índios destas tribos convidam as tribos amigas para evocarem juntas as almas dos mortos ilustres. Ainda durante a noite, trazem da floresta várias toras de madeira, conforme o número dos que desapareceram. Essas toras são organizadas em linha reta, no centro do terreiro em frente às malocas. Cada tora recebe a pintura das respectivas insígnias que, em vida, os distinguiam como pajés, guerreiros, caçadores, ou até mesmo aqueles que mais descendentes legaram à comunidade. Enquanto são executados estes trabalhos, alguns homens com arco e flecha entoam hinos aos mortos.

Com isso é possível observar que a diferença da energia vibrada por estas comunidades ao encarar o assunto morte é muito mais cultural que religiosa. Como um exemplo podemos citar o Día de Muertos, comemorado no México nos dias 01 e 02 de novembro.

Confira o nosso Manifesto pela Diversidade

Día de Muertos

O país de origem Asteca traz consigo uma comemoração de finados alegre e colorida, marcada por banquetes, como resultado do sincretismo religioso pós-colonização hispânica.  

O resultado desse sincretismo religioso é uma festa única, que mistura Virgem Maria, crucifixos e vários elementos da crença asteca. As famílias preparam verdadeiros banquetes, as pessoas se enfeitam e as crianças se divertem. Detalhe: se divertem nos cemitérios. De noite. E com os mortos.

Enfim, a sociedade humana carrega a beleza originada pela diferença que pulsa em suas veias culturais. Ser diferente e respeitar a diversidade de cada comunidade é o verdadeiro significado da expressão de humanidade.

*Artigo escrito por Flávia Tavares.